Fiquei pensando em um tema para começar a escrever. Mas não achei nenhum. E vi, na possibilidade de criar um tema durante a escrita, uma grande idéia. Visto que meus últimos dias foram conturbados, começando e terminando sem pé, nem cabeça. Aconteceram muitas brigas, rolou muita energia gasta, e meu lado espiritual (por incrível que pareça) está em alta. Lembrei agora que nessa última semana fui, em algum dia, que não lembro qual, à uma lanchonete, mais parecia um botequim do que uma lanchonete, mas mesmo assim resolvi entrar. Pedi uma tubaína e comecei a viajar em tudo aquilo. Lembrei de coisas que nem eu sabia que existiam em minha memória. Uma infância latente, uma estética ainda presente em meu dia-a-dia. Eu gostava daquele barulho todo. Daqueles velhos beberrões sentados ao balcão enxugando seus grandes copos de cerveja – simpaticamente- reluzentes, cor de ouro. O mundo inteiro parecia acontecer, e eu ali, observando cada detalhe, atentamente. Os movimentos das cadeiras de ferro, sendo arrastas pelo chão, os mesmos beberrões aposentados, na espera de mais um trago.
Eu queria envelhecer ali. Queria continuar em meio aquela cena lisérgica. Nostálgica. Mas sim, lisérgica. Eu tive visões, como num flashback, vindos de uma viagem quase sem fim. Fui embora para guardar aquela cena. Talvez nunca volte àquele bar, até mesmo por razões éticas. Tenho medo de ficar ali pra sempre. Gosto de ficar contando histórias, bebendo ao som de Vinícius, tendo idéias fantásticas acerca da existência do ser e do mundo. Aprendi a viver nesse universo boêmio. Não me arrependo, digo, possivelmente faria tudo e mais um pouco se soubesse que pararia tão cedo.
Preciso escrever sobre outras coisas. Talvez um livro. Preciso de um tema. Enquanto não encontro algum, fico por aqui. Digo ao caro leitor que:
Queria escrever melhor, mas eu percebi que não escrevo pra ninguém, a não ser pra mim, quando recebi minha primeira crítica, há uns 10 anos atrás. Mas preciso escrever mais. Não quero escrever pra nenhuma paixão, nenhum amigo, não quero fazer nenhuma dedicatória, muito menos agradar alguém. Já fiz demais. Caso você não tenha gostado, continue voltando.
Karin Segalla Ferreira