sexta-feira, 28 de março de 2008

Crônica do amor

"Ninguém ama outra pessoa pelas qualidades que ela tem, caso contrário os honestos, simpáticos e não fumantes teriam uma fila de pretendentes batendo a porta.

O amor não é chegado a fazer contas, não obedece à razão. O verdadeiro amor acontece por empatia, por magnetismo, por conjunção estelar.

Ninguém ama outra pessoa porque ela é educada, veste-se bem e é fã do Caetano. Isso são só referenciais.

Ama-se pelo cheiro, pelo mistério, pela paz que o outro lhe dá, ou pelo tormento que provoca.
Ama-se pelo tom de voz, pela maneira que os olhos piscam, pela fragilidade que se revela quando menos se espera.

Você ama aquela petulante. Você escreveu dúzias de cartas que ela não respondeu, você deu flores que ela deixou a seco.

Você gosta de rock e ela de chorinho, você gosta de praia e ela tem alergia a sol, você abomina Natal e ela detesta o Ano Novo, nem no ódio vocês combinam. Então?

Então, que ela tem um jeito de sorrir que o deixa imobilizado, o beijo dela é mais viciante do que LSD, você adora brigar com ela e ela adora implicar com você. Isso tem nome.

Você ama aquele cafajeste. Ele diz que vai e não liga, ele veste o primeiro trapo que encontra no armário. Ele não emplaca uma semana nos empregos, está sempre duro, e é meio galinha. Ele não tem a menor vocação para príncipe encantado e ainda assim você não consegue despachá-lo.

Quando a mão dele toca na sua nuca, você derrete feito manteiga. Ele toca gaita na boca, adora animais e escreve poemas. Por que você ama este cara?

Não pergunte pra mim você é inteligente. Lê livros, revistas, jornais. Gosta dos filmes dos irmãos Coen e do Robert Altman, mas sabe que uma boa comédia romântica também tem seu valor.

É bonita. Seu cabelo nasceu para ser sacudido num comercial de xampu e seu corpo tem todas as curvas no lugar. Independente, emprego fixo, bom saldo no banco. Gosta de viajar, de música, tem loucura por computador e seu fettucine ao pesto é imbatível.

Você tem bom humor, não pega no pé de ninguém e adora sexo. Com um currículo desse, criatura, por que está sem um amor?

Ah, o amor, essa raposa. Quem dera o amor não fosse um sentimento, mas uma equação matemática: eu linda + você inteligente = dois apaixonados.

Não funciona assim.

Amar não requer conhecimento prévio nem consulta ao SPC. Ama-se justamente pelo que o Amor tem de indefinível.

Honestos existem aos milhares, generosos têm às pencas, bons motoristas e bons pais de família, tá assim, ó!

Mas ninguém consegue ser do jeito que o amor da sua vida é! Pense nisso. Pedir é a maneira mais eficaz de merecer. É a contingência maior de quem precisa."

Jabor, Arnaldo
Amor é prosa, sexo é poesia

segunda-feira, 24 de março de 2008

Bruno

Vontade de inventar alguma coisa,
de retratar, relatar um sentimento
uma memória um esquecimento.

Às vezes eu me perco,
me encontro em partes pelo céu, pela estrada,
pelos caminhos tortuosos...
me acho em teus pensamentos, em teus desejos...

Neles, eu curo os meus anseios; encontro o remédio pros meus
medos nos teus lábios - sugo teu mel,
teu doce mais amargo.

Desvendo todos os teus mistérios e os perco ao olhar
nos teus olhos (cada mistério profundo, oculto, abstrato).

Acordo, os meus olhos se abrem, à primeira vista: o teu retrato.



Karin Segalla Ferreira

Incoerência

Minha boca morre de sede
e enfim mergulha despida num desejo insípido.
E esse silêncio de prazer e som
se completa nas palavras desse mar proibido.
Os olhos perseguidos num passado -
presente distante coagido -
que na memória se faz contido.
E num instante, numa lembrança retida,
permanece intacto, obscuro
e com o restante do vazio intenso do presente
da solidão que me encontro,
te retrata num verso que não sei dizer...

- e eu, a cada passo, feito num compasso de esperança,
faço a amarga música da qual me alimento.



Karin Segalla Ferreira

Morena

Morena que passa
prende-me em tua graça.
Arrasta os meus olhos ao teu corpo,
prende os meus lábios nos teus beijos.
E os teus olhos verdes
cor de um rio em movimento...
tua boca um desejo,
teus lábios que me prendem com um beijo.


Karin Segalla Ferreira

Amigo caco

Simples como viver
como um minuto
como um segundo de alegria,
de paixão, de sol...
do vai e vem do mar
das ondas
ondas azuis
como as conversas de céus do mundo
céus profundos...
profundas viagens que tive em teu corpo.
Viagens que vivi...
intensas como estar vivo.



Karin Segalla Ferreira

domingo, 23 de março de 2008

Súbito

O meu rosto perdido no espelho ficou;
como uma escultura
que o vai e vem das ondas levou.


Karin Segalla Ferreira

Morrer

...ah! Se eu pudesse apenas um verso de palavra retirar,
construiria uma barca com as minhas próprias mãos,
as mergulharia em meu íntimo
e morreria em alto mar!



Karin Segalla Ferreira

Águas fugidias

Ah! Se eu soubesse controlar as palavras...
talvez nunca as importunasse em meu vocabulário,
talvez nunca tivesse tocado em teus lábios.

Ah! Eu queria navegar no ritmo dos teus quadris,
ver o sol - bêbado equilibrista dos céus -
nascer no âmago da madrugada ao horizonte infinito.

Ir à mais distante ilha dos sonhos
e admirar teus lábios risonhos;
beijar-te a boca em perfeita sintonia com as ondas do mar
quebrando em câmera lenta.



Karin Segalla Ferreira

sexta-feira, 21 de março de 2008

Perto do fogo

Ando distraído pela ausência de mim mesmo;
procuro encontrar saída :
- encontro teus olhos,
tua boca
e o teu corpo inteiro...
E os perco num breve espaço de tempo.
Como uma melodia sem rumo
nossos corpos num desejo errante pulsam ardentemente...
e o fruto proibido deixa o som do calar em
nossas bocas.



eu queria ficar perto do fogo, no umbigo de um furacão; e no peito um gavião.
(Perto do fogo; Lee, Rita/Cazuza)



Karin Segalla Ferreira



Blues do iniciante

Eu sou o teu sabor favorito -(principalmente quando estou despido)
mesmo amargo e impreciso. Se te alcanço uma memória, não me perco
a um breve traço...
Mas faço os teus olhos pulsarem de remorso quando chego em teu espaço.
Se procuro encontrar saída esqueço logo o trago e gero uma despedida.
- E agora?! ...
Jogo-me em teu compasso ou perco a medida??


Karin Segalla Ferreira

18/03/2008

A cada sofrimento um déjà vu diferente.
Uma experiência profana em lábios carnudos
e imundos.
Beijos vertiginosos e dois corpos sem pudor se encaixam.
Duas bocas se pertencem por breves momentos; lacônicos,
intensos, profundos e afundados em rimas sem rumo.

[Sem rumo o meu destino, sem destino a minha vida...
e a tua, que junto a minha se completa nesses momentos cheios
de significação]

- Eu me entrego, e você?



Karin Segalla Ferreira

Mais um na multidão ou Poema para São paulo

Na multidão busco meu amor, ainda anônimo. Seu rosto desconheço, entre tantos outros que passam pela avenida, que me esqueço - e por onde tantas vezes me perco. Nesse caminho, sentada na calçada, às vezes dançando na madrugada da lua à luz do meio-dia, numa melodia pura me desfaço, e permaneço intacta num laço desconhecido. Convertida me refaço e me despedaço em pétalas, percorro o prefácio e num acaso deslizo. Sussuro em teus ouvidos, provoco os teus sentidos e gero uma despedida - despida de tempo entro em teu pensamento, faço o silêncio, pois falo mais alto quando me calo. A sinfonia de desejo se perde nos teus traços, alcança o tom da tua alma e descongela a minha vida - congelada desde a última vez que te vi.


Karin Segalla Ferreira