sábado, 15 de novembro de 2014

Cale-me

Lucia, quando vierdes aqui não me prendas. Não reprima o teu amor. Não me mostre teus desejos, apenas seja minha. Não quero ouvir tua voz antes do amanhecer, apenas teus gritos, teus gemidos, tua face me pedindo mais. Teus olhos dentro dos meus. Esqueça tudo. Esqueça os ventos que te trouxeram, e aqueles que já te levaram embora uma vez. Apenas seja minha. Perca tua voz antes de falar que me amas. Perca teu caminho, tua estrada te leva a mim, de nada adianta seguir sozinha. Tua estrada é a minha. Esqueça, me perca nessa repressão que vem com teus desejos. Teus gritos falam mais que eu te amo, mais que sou tua. Muito mais ainda quando vejo meus olhos nos teus refletidos. Seja tua no vento que me trouxe pra ti, irei embora no próximo verão, minha estrada seguiu sozinha, esquecida pelo eu te amo que tu me disseste aquele dia.


Vicentina. Cansei de ti. Não me leve embora contigo, apenas me leve pra casa, onde sou leve e minha. Não serei tua e de nenhuma outra. Os ventos sopram em Mi menor por aqui, tu não gostas desse acorde, nem nunca vai gostar. Aceite isso. Teu lance são os Lás com sexta, e olhe lá. Encontrei alguém pra matar as saudades. Esse alguém passa longe de ser perto de ti. Sossega esse teu coração. Sossega pela estrada que você escolheu seguir, nossos caminhos são outros. Nossas vidas são outras. Meus olhos já não são abrigo dos teus, nem minha face te pede mais, porque não há mais nada a pedir. Se por acaso me quiserdes, não direi não. Antes disso, apenas mude, se mude. Seja tua. E me deixes em paz. Apague do teu peito tudo o que quisermos viver, porque somos outras. Seja outra. Por favor. As flores que me destes já morreram, entenda que novos ares precisam nos completar. Novas flores não renascidas dessas cinzas, mas outras flores. Outra cor. Outro som.




Karin Segalla Ferreira

domingo, 9 de novembro de 2014

The drum beats out of time

"Meu coração não consegue despertar levemente". 


Assim como uma bateria, que bate completamente fora do tempo, o peito de Vicentina esboça toda a dor que sente. As mãos isolam toda a absoluta certeza de qualquer ritmo compassado que possa vir a bater nessa música. Porque não existe nenhum par para dançar. E quando Vicentina diz "par", sim... ela se refere a Lúcia, que por sua vez' está mais uma vez' perdida. Lúcia não fica perdida como um ritmo descompassado. Lúcia se esquiva de si mesma como um grande lutador de Boxe. Daqueles que não usam luvas e acham que dão conta de absolutamente toda e qualquer porrada, seja de onde vier. Os perdões estão acessíveis. Mas Vicentina ainda não os quer. Prefere, ainda, ficar ponderando e criando em sua ávida mente, medidas mais cautelosas de curar seu porre de amor. Ainda não está de ressaca. Conta que ainda pode contar com Lúcia, mas nem ela consegue acreditar nela mesma. Insiste nessa idéia, vaga, louca e travestida. 

-Lúcia! Me veja. Me sinta. Estou acabada. Meus cigarros acabaram. Sei que deixei todos na tua casa. O acaso mais uma vez me deixou só. Me renda, me liberte, me seja. Eu preciso de paz. Me devolve aquela paz que eu tinha antes de ti. Olha tudo que tu fez. E eu ainda estou aqui. Me perca em mim, me devolva ao que eu era, ao que eu fui, e ao que eu entreguei pra ti. Onde estou?

sábado, 1 de novembro de 2014