domingo, 21 de novembro de 2010

um dia de cada vez

Quando meus olhos se fecharem, talvez se fechem ao lado dos teus. Ah! Essa saudade eu sei de cor. Sei que rasga e dói. Sei que tudo mata e tudo me faz voltar a viver. Estou tonta. Embriagada de cansaço. Meu cansaço e a minha embriaguez. Ressaca [apenas de sono], manhãs de insônia. Sobriedade. Desequilíbrio. Sons breves, mínimos e sétimas acima. Terças talvez. Uma quinta. Como tudo se acaba na quarta-feira - de cinzas e de sonhos. Paixões que se foram e formaram um grande pedaço de vazio. Calafrios. Frio. Buracos em minha alma. Vão em minhas mãos. Calma. Essa saudade meu amigo, eu sei de cor.




Karin Segalla Ferreira

sábado, 16 de outubro de 2010

Sentiu vontade de abraçá-lo. Foi vê-lo. Não disse nada. Chorou apenas. Ele chorou também. Fechou o portão e ela se despediu. Os dois deram passos de encontro e pararam no meio do caminho. Apenas se olharam. Suspiraram e pensaram: -Por que não disse nada? Por que não dei o abraço que queria ter dado? Ela voltou pra casa pensando. Não conseguiu olhar pra trás. Resolveu escrever um romance. Queria começar mas ainda não sabia como. Eram tantas histórias, tantos anos. Iniciou duas crônicas. Mais pareciam contos. Não sabia relatar a realidade e o passado. No entanto, era apenas o que conseguia fazer. Por isso os inventava e os colocava de uma forma que só ela entendia o que estava escrito em suas entrelinhas. Deixou tudo ficar subentendido. Não queria que ninguém entendesse as suas palavras. Mas, ele as entenderia. Ele e mais alguns. - E algumas. Em vinte anos vivera apenas seis romances. Se apaixonara apenas duas. Amou apenas uma. Ainda não sabe quem. Está na dúvida, entre karma, missão e sua vontade. Queria amar verdadeiramente Felipe mas, sabia que seu karma era Marcela. Fazia questão de não mudar os nomes em seus contos. Marcela não era seu karma, Vicentina queria que o fosse. A sua missão, ela achava que só poderia ser realizada ao lado de Mateus, ele sim. Ele sim era tudo aquilo que ela queria amar. Mas Felipe... ela nunca sentira nada, nada comparado ao seu sentimento por Felipe. Poderia ele ser seu marido espiritual. Poderia ele ser... quem?! Dúvida. Lembrou de outras paixões. Mas não queria descrevê-las. Enfim, Felipe vivia longe dela. E ela pensava nele todos os dias. Mas pensava também em todas as outras paixões. - Todos os dias. Lembrou-se de Tina. Ela nunca a amou. Não entendia por que estava com ela. Sentiu pena. Sentiu arrependimento. Sentiu que enganou alguém que entregaria sua vida por ela. - Passou. Felipe estava longe. Com outra.
- Outras. Foram tantos corpos. Tanta energia. Tanto prazer. Mas, percebeu que nunca sentira prazer. Nunca sentira nada. Resolveu que nunca amou ninguém. Estava aprendendo a se gostar. Sentiu raiva de todas as pessoas que a conheciam. Não por elas, mas pela imagem que fizera as outras pessoas terem dela. Tocou o foda-se. Na verdade queria mesmo é que todas aquelas pessoas sumissem de seu caminho e nunca mais lembrassem dela. E só. Perdeu o rumo nos seus passos a caminho de casa. Ficou pensando em tantas coisas que por alguns instantes esqueceu que o que a preocupava era o seu sentimento. A quem se declararia? Talvez vinte anos mais sejam o suficiente para descobrir. Esperaria. Estava disposta a entregar a sua vida a Deus por vinte anos e esperar por ele. Sabia que era ele. Pois ela, ah, ela já não importava mais. Pensou em escrever tudo detalhadamente. - Foi ali.



Karin Segalla Ferreira

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Teu nome I

Estava sofrendo. Ligou. Ninguém atendeu. Sentia-o cada vez mais distante, e cada vez mais ela queria tê-lo perto. Parecia uma necessidade, uma condição para que o seu coração batesse mais algumas vezes. Sem demora começou a imaginar o que faria se pudesse fazer tudo o que lhe viria a mente. Iria até ele do jeito que estava. Não importando onde, a distância, nem as consequências dos seus atos. Queria vê-lo. Não suportava mais. Não tinha nenhuma foto para beijar ou relembrar. Só tinha todos os momentos na memória e uma vontade de correr pra perto, onde seu coração se acalmaria. Ah! A calmaria. Hoje se deu conta que só sentia paz com ele. Quando estava perto dele. Ou, quando sentia-o presente. E essa era a questão. Ela não o sentia mais. Tantos anos sem vê-lo deixaram-a cada vez mais longe das lembranças. Tentou fechar os olhos e imaginar seu corpo no dele. Mas não conseguiu. Parecia haver uma névoa de pensamentos fazendo com que ela não pensasse. Não amasse. Mais uma vez teve a certeza que sua vida daria um romance. - Goethe. Cansara de tudo. Já havia desaparecido antes. Trancado a porta dos fundos. Mas dessa vez. Pela última vez, deixou-a aberta. E a porta da frente, e mais todas as outras entradas e janelas. Esperou. Vestiu-se, dessa vez, de esperança. Encheu os olhos de lágrimas e pediu a Deus. - Adeus. Um pedido sincero. Poderia ser o último mas, no entanto, era o primeiro. Assim como ele fora seu primeiro homem. Não de corpo, mas de alma. - Calma. Pensou em parar por ali, tomar uma dose letal de Rivotril e enfim sumir. Sonhar e viver tudo o que almejara. Não foi o que fez. Ou melhor, não foi o que conseguiu fazer. Por que ter que esperar tanto tempo por um amor? - Sei lá. Tinha a certeza que as regras vinham de algo que ainda estava fora da sua mera humana compreensão. - Ou não. No fundo, sabia que tinha que esperar. Sabia que a espera valia, e era tão valiosa quanto o amor que sentia em seu peito. - Em seu corpo inteiro. Deitou-se mais uma vez. Despiu-se. Vestiu-se de amor. Retornou a sua infância. Tomou seus florais e decorou o quarto abrindo a janela. - A luz do sol já podia entrar. Na estante, um livro de Cecília a convidava para viver amores inabaláveis e concretos. Como interpretava. Pra sempre. Será que seu amor era eterno? - Quantas dúvidas. Se perguntava cada vez mais, pra que tudo aquilo? Pra quê as ruas, os poetas, as lágrimas, os desfechos, a saudade e o vão em suas mãos. De que lhe serviria o amor em um momento desses? - De nada, mesmo quando nada é tudo. Só o amor que sentia não lhe moveria as pernas. Precisava de boa vontade e coragem. Não adiantaria ficar ali, estagnada, letárgica, sofrendo e imaginando como seria se... - E se?! Não se moveu. Mas queria. Queria profundamente. Não ligou mais. Esperou. Escreveu tudo o que sentia e chorou. Despiu-se mais uma vez. Dessa vez de pressa. - A pressa, aquela que é inimiga da perfeição. Pensou em mandar uma carta. - Sim! Mandar uma carta seria a solução. Mas, e se ele estivesse viajando? E se ele não sentisse mais nada por ela? - E... Subjuntivos não resolveriam nada. Futuros incertos, muito menos. Pretéritos, aqueles mais que imperfeitos, menos ainda. Escreveu mais. Agora, ainda escreve. Essa história não tem fim. - Nossa história não tem fim.







Karin Segalla Ferreira

domingo, 12 de setembro de 2010

Sem mais

Ali estava ela. Com seu vestido de prata e sua guitarra nova. Compôs uma canção pensando nele. Dedicou todos os seus versos, aqueles, os mais sinceros, ao amor que vivera. Lembrou que ao badalar dos sinos e o soar da meia-noite, estava ao seu lado. Ah, como pudera? Como pudera dar tão pouco valor aqueles dois olhos tristes? Reconheceu-o como seu legítimo esposo. Estava pronta para casar. Ainda não sabia se aqui, ou lá. Mas tinha certeza que ele era o homem da sua vida. Pra todo o sempre. Desejou ter infinitas sensações e as mais puras satisfações que não estão nesse mundo. Sentiu seu corpo levitar. Só de pensar como seria. Precisava dele ali. Naquele momento, de corpo presente. Levantou seus olhos ao luar. Viu aquela estrela que gostaria que ele visse também.




Karin Segalla Ferreira

Saudade

Sentiu-o ali, presente. Não tinha certeza se estava lúcida o suficiente para distinguir se era apenas uma vaga lembrança ou sua intuição que lhe dizia que deveria procurá-lo. Sentiu aquele tempo escorrer em seus pensamentos, sentiu o abraço que dera nele, há exatos 8 anos. Não sabia o que fazer. Queria correr. Queria ir atrás dele onde quer que fosse. Queria que ele estivesse ali, para guiá-la em seu caminho a sua procura. Escreveu mais uma vez tudo aquilo que gostaria de ter dito. De ter ouvido. De ter feito e sentido. Provou da sensação mais estranha até então. Queria-o perto, de qualquer maneira.
- Ah! Como eu queria voltar no tempo. Fazer o tempo te trazer de volta pra mim. Eu sinto tua falta. Teu andar desalinhado, o arrastar dos teus chinelos vindo de encontro aos meus. Teu jeito desconcertado ao me sentir por perto. Teu sorriso ao me ver. Ah... Como eu queria tudo isso de volta. Parecia tudo tão certo. Parecia que ia dar certo. Fico a tua espera, pro resto da minha vida.

Assim, ficou ali. Esperando. Por mais alguns segundos, alguns minutos, anos. Angustiada, fugiu pra longe. Foi morar na praia. Ali, tinha certeza que algum dia viveria todas aquelas lembranças de novo.

- Eu te amo.

Chorou. Abraçou-o até o infinito. Beijou cada parte da sua face. Enxugou suas lágrimas e sorriu.
Viveu esse sonho por toda a eternidade.


(- Será que você vai saber o quanto penso em você, com o meu coração?)




Karin Segalla Ferreira

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Falta

Escrevia. Apagava. Rasgava todas as cartas. Não sabia mais como se expressar. Tentou ligar, tentou sorrir. Tentou dizer. E por muitas vezes tentou chorar. Suas lágrimas não saíam. Sua voz ao telefone era muda. Estava cansada. Queria todas as vitórias que buscara durante uma vida inteira, e que deixou escapar por tantos erros. Cansou de tentar. Cansou de tudo e de todos. Até das próprias palavras. Da própria saliva. Do gosto doce que sentia ao pensar nela. Lembrou que toda vez que saía de casa, deparava-se com um rosto igual ao dela. Em todo canto, dentro dela e em outros cantos. Ouvia tudo aquilo. Mas sabia que ela não era sua mulher. Tinha certeza que tudo o que vivera com ela, foi apenas uma escolha. Um caminho errado. Uma ferida, uma cicatriz que ficará pra sempre em seu corpo. Deixou as mãos caírem. Abaixou o corpo e se ajoelhou. Pediu perdão. Pensou na morte - quem sabe na sorte - e até em tê-la. Mais uma vez queria desaparecer. Dessa vez, por inteiro. Queria viver um dia de cada vez, mas era tomada por sentimentos de um futuro incerto que a perturbavam. Seria ela capaz de enfrentar o que lhe seria imposto? Teria ela a força de aguentar cada dor? - Sei não. - Não, eu sei. - Não. Apaguem as luzes. Ela está de branco e quer passar.

- Imagem clara no escuro. A energia mais pura e gelada. A luz.



(tô ali, naquela nuvenzinha ali)




Karin Segalla Ferreira

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Manhãs sem sono, noites de insônia

- Ela não conseguia dormir há três dias. Pensava nos seus dias com ela. Nos sorrisos e promessas. Naquelas brigas sem sentido. Cansou de esperar e resolveu ligar. Primeiro, apagou as luzes, despiu-se e colocou seu mais doce perfume. Vestiu-se de solidão. Respirou fundo mais uma vez, e com as duas mãos frias discou o número que até em tão, por ela, não era esquecido há seis anos. Suou frio. Seu coração num descompasso bateu desesperado. Suas mãos frias, mais uma vez, pulsavam de nervoso. Ela não sabia o que dizer. Não sabia pra que serviam as suas dúvidas, e todo aquele sentimento. Desligou antes que escutasse a voz que não a deixava em paz. Mesmo assim a ouvia. Dizendo-lhe tudo aquilo que escutara outrora. Tentou se desligar. Antes que escutasse a sua própria voz dizendo tudo o que dissera outrora, e tudo aquilo que gostaria de dizer. Tudo o que sofreu, tudo o que chorou e viveu. Tudo aquilo que nunca disse. Nem pra ela mesma. Nem pra Deus. Chorou baixinho. Chorinho. Alguém estaria pensando nela naquele momento? Alguém estaria sofrendo como ela?! Sei não. Pegou dois papéis, duas canetas e um cigarro. Sentou a beira da cama e sussurrou algumas palavras. Encontrou um verso. Escreveu e sonhou. Acendeu o cigarro e tragou-o como se fosse o seu último suspiro. Tirou forças de seu ventre para aquele trago. Esvaziou seus pulmões e sentiu-se aliviada. Jogou-se em seus lençóis. Relaxou cada músculo do seu corpo e resolveu desaparecer. Levantou. Calçou seu salto mais alto e vestiu-se de vermelho. Cobriu suas mãos com luvas de veludo. Jogou fora seus versos mais sinceros, trancou a porta dos fundos e desapareceu. Desapareceu dela mesma. Dela. E de mais algumas.





Sincera.










Karin Segalla Ferreira

sábado, 17 de julho de 2010

Mais uma vez inverno

Mais uma vez insônia. Começo a me lembrar da minha própria vida, dos meus próprios atos e percebo que não me recordo de quase nada. Tento lembrar de namoradas, histórias de baladas, mas nada. Nada vem à tona em minha mente. Lembro que há uns dois anos atrás, quando tentava relembrar de algum passado, era tão fácil. Não sei se porque eu ainda vivia algumas situações parecidas, ou alguns sentimentos. E hoje tá tudo tão diferente. Tão calmo, que chego a me assustar. Faz frio, e eu lembro um pouco dos dias que estive com ela. De uma breve história de Abril que acabou no inverno. Dividimos o mesmo teto. Mas algumas paredes nos separaram, e por fim terminamos ausentes. Lembro de tentar procurar atalhos, de passar noites em claro, pensando em como chegar até ela. Mas nunca consegui. Depois de algumas noites, enfim resolvi partir. Creio até ter ficado demais. Amado demais. Me entregado demais. Acreditado demais. Foi rápido. Mas tenho certeza que a amei o infinito. Longe de qualquer outro sentido por mim antes vivido. Só posso falar por mim. Foi bom, e passou. Como uma gripe que se pega num dia de uma aula chata. Você falta pela gripe. E depois, agradece por tê-la pego, por mais que isso tenha lhe feito mal. Nem sei mais o que estou dizendo. Mas minhas experiências cada vez mais me dizem que cada vez mais estou longe do amor. Ainda não entendi porque. Ainda não me perguntei por quê. Tenho ouvido discos da Cássia Eller e pensando em uma época em que eu não amava ninguém. E conseguia ser, pra mim, uma pessoa muito romântica. Acho que eu ainda não tinha sofrido por amor. Parecia tudo tão mais fácil.

-Mais uma vez inverno. Quem sabe Abril não demore tanto dessa vez.





Karin Segalla Ferreira

quarta-feira, 16 de junho de 2010

Douce France

Queria gritar. Tinha apenas a certeza de estar no lugar certo. Voltava a sentir sob sua pele algum sangue percorrendo por entre suas veias. Naquele momento sentia seus pés, cruzados, a cabeça posta delicadamente inclinada para a direita e os pulsos devidamente colocados em cima de seus joelhos, pendendo suas mãos para baixo. Sua nuca estava a mostra, por isso sentia um leve arrepio ao passar das horas. Estava ali, perplexa. Tentando achar alguma saída para aqueles erros, ainda tão evidentes. Meditou por alguns minutos. Estava livre. Percorria desertos, descalça. Despida de todos os empasses e preocupações. Caminhava lentamente. Apreciava o encontro de seus pés com a areia, clara e macia. Como se não buscasse objetivo algum, caminhou mais lentamente. Parou. Ficou escuro de repente.
Meditou outra vez, e o que viu foram flores. Uma grama verde quase que reluzente ao toque do sol e lindas margaridas. Também rosas, que a um leve orvalho da noite anterior tinham desabrochado antes da hora. Feriu-se em um espinho ao tentar encontrar a pétala perfeita. Correu para baixo de uma macieira. Ali ficou por horas, lendo seu romance preferido – Werther - acompanhado de Cecília. Lágrimas escorreram de seu rosto ainda jovem. Novamente tentou sentir suas mãos tocar noutras, mas ali estava - sozinha. Esperava ansiosamente a chegada de alguém, não sabia quem, mas esperava mesmo assim. Debaixo daquela árvore que um tenro outono despiu, mais uma vez meditou.
Desta vez viu seu futuro, ou talvez algum passado remoto. Estava de vestido e cabelos longos. Pedia permissão para dançar com um jovem rapaz uma valsa antiga. Pisou em seus pés e se desculpou. Viu dois de seus três filhos. Eles falavam uma língua até então desconhecida por ela, mas, entendia cada palavra. Concordava e discordava, e afirmava novamente suas opiniões sobre as obras que naquela semana estariam expostas no Louvre. Percorria a Champs Élysée em um breve calar de passos, pois parecia flutuar sobre aquela paisagem. E de repente, em uma cena comovente, viu seu terceiro filho correndo para abraçá-la. Sentiu aquele abraço de demora, e partiu.




Karin Segalla Ferreira

terça-feira, 15 de junho de 2010

Outrora

Seu passado não a incomodava, apenas lhe causava um breve calafrio. Gostava da lembrança do gosto de beijos, onde águas fugidias de outro corpo lhe preenchiam por inteiro - e onde mais tarde se alimentaria de algumas migalhas e restos de alguma noite de outrora.
Parecia ouvir, perfurando-lhe os tímpanos, os suspiros de alguém distante, ainda latente em sua memória. Nada era claro, os suspiros, a voz, aquela imagem. Podia apenas sentir o toque, que com a ponta dos dedos percorria os olhos e os lábios de outrem.
Fazia, por repetidas vezes, o mesmo toque no ar – sentia. Procurava por outras mãos, mas só encontrava suas duas mãos frias. Como pudera? Sentir-lhe a face e não as mãos. Mas quem? De quem seria o doce rosto, que a um simples toque a fizera deseja-lo tanto?
Tentava lembrar quem foram seus amores e amantes, e percebia que de fato ainda não amara a ninguém. Tentou escrever por muitas vezes, durante muitos anos sobre seus sentimentos, e agora vê que nunca os sentiu. Parecia estar em um prelúdio para a morte. Descansou seus lábios. Tentou sentir, tentou escrever, tentou respirar. Não conseguiu.


Karin Segalla Ferreira

segunda-feira, 17 de maio de 2010

Sem querer

Fiquei pensando em um tema para começar a escrever. Mas não achei nenhum. E vi, na possibilidade de criar um tema durante a escrita, uma grande idéia. Visto que meus últimos dias foram conturbados, começando e terminando sem pé, nem cabeça. Aconteceram muitas brigas, rolou muita energia gasta, e meu lado espiritual (por incrível que pareça) está em alta. Lembrei agora que nessa última semana fui, em algum dia, que não lembro qual, à uma lanchonete, mais parecia um botequim do que uma lanchonete, mas mesmo assim resolvi entrar. Pedi uma tubaína e comecei a viajar em tudo aquilo. Lembrei de coisas que nem eu sabia que existiam em minha memória. Uma infância latente, uma estética ainda presente em meu dia-a-dia. Eu gostava daquele barulho todo. Daqueles velhos beberrões sentados ao balcão enxugando seus grandes copos de cerveja – simpaticamente- reluzentes, cor de ouro. O mundo inteiro parecia acontecer, e eu ali, observando cada detalhe, atentamente. Os movimentos das cadeiras de ferro, sendo arrastas pelo chão, os mesmos beberrões aposentados, na espera de mais um trago.
Eu queria envelhecer ali. Queria continuar em meio aquela cena lisérgica. Nostálgica. Mas sim, lisérgica. Eu tive visões, como num flashback, vindos de uma viagem quase sem fim. Fui embora para guardar aquela cena. Talvez nunca volte àquele bar, até mesmo por razões éticas. Tenho medo de ficar ali pra sempre. Gosto de ficar contando histórias, bebendo ao som de Vinícius, tendo idéias fantásticas acerca da existência do ser e do mundo. Aprendi a viver nesse universo boêmio. Não me arrependo, digo, possivelmente faria tudo e mais um pouco se soubesse que pararia tão cedo.
Preciso escrever sobre outras coisas. Talvez um livro. Preciso de um tema. Enquanto não encontro algum, fico por aqui. Digo ao caro leitor que:
Queria escrever melhor, mas eu percebi que não escrevo pra ninguém, a não ser pra mim, quando recebi minha primeira crítica, há uns 10 anos atrás. Mas preciso escrever mais. Não quero escrever pra nenhuma paixão, nenhum amigo, não quero fazer nenhuma dedicatória, muito menos agradar alguém. Já fiz demais. Caso você não tenha gostado, continue voltando.



Karin Segalla Ferreira

segunda-feira, 29 de março de 2010

As curvas da sua mão

De todos os lugares, tua mão eu prefiro.
Dentro dela existo, porque quero.
Se você mostrasse o palmo aberto,
Ainda assim, permaneceria alí,
Dentro dela, porque não me convém o deserto.
Sonho com o nosso passado
e o presente tão ausente
Que quero esquecer
Dizem que o coração é do tamanho do punho fechado,
então eu te peço para que me feche, amor.
E até quando você disser não
Ainda assim, serei teu coração
Me avise se passar da hora
Porque eu não quero ir embora
Se você não for
Me atrase pelos bons momentos
Me arraste pelos pensamentos
Me arranque sentimentos
E alí eu vou estar





Karin Segalla Ferreira

Wasn't me

E quero que você me tenha na tua mão pra sempre
O quanto você quiser
E quanto tempo for
Sonho com o nosso passado e o presente tão ausente
Que quero esquecer
E quando você for


Me avise se passar da hora
Porque eu não quero ir embora
Se você não for
Me atrase pelos bons momentos
Me arraste pelos pensamentos
Me arranque sentimentos
E alí eu vou estar


Karin Segalla Ferreira

Cartas para ninguém

E não quero mais voltar pra perto, eu não espero
E não enxergo
Mais nada além de ti
Quero que você me tenha dentro de mim
E em outros cantos
Sou teu erro mas acerto enquanto não tiver fim


-Fazer longas cartas pra ninguém.

?

Resolveu escrever sobre as pernas dela. De como ela andava: andar descompassado em seu ritmo, torto ao caminhar em linha reta, sem saber o rumo e qual seria o seu próximo caminho. Um andar desalinhado, sempre procurando a próxima parada. Qual seria então o outro asfalto que lhe conduziria?


-Me pergunto isso todo dia.





Karin Segalla Ferreira

Para ti

Se eu disser que te amo, - acreditas??
Todo fim de relacionamento traz uma lembrança de um primeiro encontro. Pois todo fim teve um dia, um começo. Ele queria dizer a ela, o quanto a amava logo que a conhecera. Dizer que ela era a mulher da sua vida, e que jamais amaria um outro alguém senão ela. Casou, teve filhos, separou, amou de novo. Tudo isso em sua mente perante a três palavras – oi, tudo bem? Acabara de conhecê-la. Mas queria impressioná-la lhe dizendo o quanto seriam felizes, o quanto se amariam. O quanto a desejara durante esses vinte anos. Queria mostrar que sabia que ela era a mulher que seria mãe de seus filhos, dois. Um casal. Quanto mais conversava com sua amada, mais tinha a certeza que era ela. Sabia que a faria sofrer, sabia que sofreria.
- Mas mais uma vez queria dizer tudo aquilo. Mais uma vez queria amar. Mais uma vez dizer que nunca amou assim em toda sua vida.



Karin Segalla Ferreira
Co: Fernanda Young

quarta-feira, 10 de março de 2010

A voz se cala e diz: até mais

Começara a escrever pequenas cartas de amor. Nunca enviadas. Desejara ter aquela mulher que o servia de exemplo para o que não se deve ser como um fruto proibido. Uma mulher que jamais seria humilde o bastante para dizer por suas próprias palavras o amor. Aquele que se sente mais do que qualquer outra dor pungente, mais do que qualquer sentimento de felicidade ou angústia, é aquele que se sente por todo o momento penetrando nas veias e disparando o coração.
Em um descompasso incessante de torpor, ele sentia aquela boca tocando a sua mais uma vez. Sentia suas mãos pulsarem junto daquelas que tanto desejara, assim, subiu aos céus. Quis acreditar que aqueles breves instantes de satisfação momentânea durariam para sempre. Ela? Ela não sentia mais nada. Apenas queria prazer. Prazer por prazer. Não pensava em satisfazê-lo, queria apenas que ele ficasse aos seus pés. E assim, poderia satisfazer-se completamente. Suas vontades, como mulher, eram superfluas. Ela queria homens aos seus pés por onde fosse. Cavalheiros que viessem acender o seu cigarro francês e a seduzissem pelo simples fato de ela ser irresistível. Ela gostava disso. Mas ele não. Ele a observava de longe, por muitos anos. Sonhava com ela quase todas as noites. Fazia juras de amor eterno, acordava, dormia, e sonhava o mesmo sonho. Cada vez mais real, e cada vez mais ele acreditava em suas utopias.

domingo, 7 de março de 2010

Home, home, home

Nao gosto da maneira que ela me olha. Ela me desconcerta e me deixa pensando nela o tempo todo. O resto das minhas 24h. E de certa forma eu ainda insisto em querer obtê-la por alguns instantes. Sonho com seus beijos e viagens ao seu corpo.
Minhas pernas trêmulas e as minhas duas mãos suadas, sem ação. Seus gestos estarrecedores. Sua boca que unia aqueles dois lábios carnudos. E aquele primeiro momento que ainda me cega. Não tenho mais lembranças, apenas a sinto em mim. Como uma azia que dispara meu peito em descompasso e o coração fica à deriva de mais uma noite de insônia.
Quem me dera tê-la mais uma vez em meu âmago. Segurar-lhe a vida como quem morre afogado, em desespero e agonia, buscando a luz para respirar mais uma vez. Talvez eu sinta demais. Talvez tenha pecado demais. Mas eu acho que pedir mais um breve instante, não é demais. Talvez.





terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

SPH

Não sei ao certo o que eu senti
Mas sei que desta vez eu não precisei mentir
Entreguei minha vontade e minha vida
Assim como cada chegada e cada partida
Cada reunião como se fosse a última
Cada reunião com o amor da primeira.



Karin Segalla Ferreira