sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Teu nome I

Estava sofrendo. Ligou. Ninguém atendeu. Sentia-o cada vez mais distante, e cada vez mais ela queria tê-lo perto. Parecia uma necessidade, uma condição para que o seu coração batesse mais algumas vezes. Sem demora começou a imaginar o que faria se pudesse fazer tudo o que lhe viria a mente. Iria até ele do jeito que estava. Não importando onde, a distância, nem as consequências dos seus atos. Queria vê-lo. Não suportava mais. Não tinha nenhuma foto para beijar ou relembrar. Só tinha todos os momentos na memória e uma vontade de correr pra perto, onde seu coração se acalmaria. Ah! A calmaria. Hoje se deu conta que só sentia paz com ele. Quando estava perto dele. Ou, quando sentia-o presente. E essa era a questão. Ela não o sentia mais. Tantos anos sem vê-lo deixaram-a cada vez mais longe das lembranças. Tentou fechar os olhos e imaginar seu corpo no dele. Mas não conseguiu. Parecia haver uma névoa de pensamentos fazendo com que ela não pensasse. Não amasse. Mais uma vez teve a certeza que sua vida daria um romance. - Goethe. Cansara de tudo. Já havia desaparecido antes. Trancado a porta dos fundos. Mas dessa vez. Pela última vez, deixou-a aberta. E a porta da frente, e mais todas as outras entradas e janelas. Esperou. Vestiu-se, dessa vez, de esperança. Encheu os olhos de lágrimas e pediu a Deus. - Adeus. Um pedido sincero. Poderia ser o último mas, no entanto, era o primeiro. Assim como ele fora seu primeiro homem. Não de corpo, mas de alma. - Calma. Pensou em parar por ali, tomar uma dose letal de Rivotril e enfim sumir. Sonhar e viver tudo o que almejara. Não foi o que fez. Ou melhor, não foi o que conseguiu fazer. Por que ter que esperar tanto tempo por um amor? - Sei lá. Tinha a certeza que as regras vinham de algo que ainda estava fora da sua mera humana compreensão. - Ou não. No fundo, sabia que tinha que esperar. Sabia que a espera valia, e era tão valiosa quanto o amor que sentia em seu peito. - Em seu corpo inteiro. Deitou-se mais uma vez. Despiu-se. Vestiu-se de amor. Retornou a sua infância. Tomou seus florais e decorou o quarto abrindo a janela. - A luz do sol já podia entrar. Na estante, um livro de Cecília a convidava para viver amores inabaláveis e concretos. Como interpretava. Pra sempre. Será que seu amor era eterno? - Quantas dúvidas. Se perguntava cada vez mais, pra que tudo aquilo? Pra quê as ruas, os poetas, as lágrimas, os desfechos, a saudade e o vão em suas mãos. De que lhe serviria o amor em um momento desses? - De nada, mesmo quando nada é tudo. Só o amor que sentia não lhe moveria as pernas. Precisava de boa vontade e coragem. Não adiantaria ficar ali, estagnada, letárgica, sofrendo e imaginando como seria se... - E se?! Não se moveu. Mas queria. Queria profundamente. Não ligou mais. Esperou. Escreveu tudo o que sentia e chorou. Despiu-se mais uma vez. Dessa vez de pressa. - A pressa, aquela que é inimiga da perfeição. Pensou em mandar uma carta. - Sim! Mandar uma carta seria a solução. Mas, e se ele estivesse viajando? E se ele não sentisse mais nada por ela? - E... Subjuntivos não resolveriam nada. Futuros incertos, muito menos. Pretéritos, aqueles mais que imperfeitos, menos ainda. Escreveu mais. Agora, ainda escreve. Essa história não tem fim. - Nossa história não tem fim.







Karin Segalla Ferreira

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