sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Manhãs sem sono, noites de insônia

- Ela não conseguia dormir há três dias. Pensava nos seus dias com ela. Nos sorrisos e promessas. Naquelas brigas sem sentido. Cansou de esperar e resolveu ligar. Primeiro, apagou as luzes, despiu-se e colocou seu mais doce perfume. Vestiu-se de solidão. Respirou fundo mais uma vez, e com as duas mãos frias discou o número que até em tão, por ela, não era esquecido há seis anos. Suou frio. Seu coração num descompasso bateu desesperado. Suas mãos frias, mais uma vez, pulsavam de nervoso. Ela não sabia o que dizer. Não sabia pra que serviam as suas dúvidas, e todo aquele sentimento. Desligou antes que escutasse a voz que não a deixava em paz. Mesmo assim a ouvia. Dizendo-lhe tudo aquilo que escutara outrora. Tentou se desligar. Antes que escutasse a sua própria voz dizendo tudo o que dissera outrora, e tudo aquilo que gostaria de dizer. Tudo o que sofreu, tudo o que chorou e viveu. Tudo aquilo que nunca disse. Nem pra ela mesma. Nem pra Deus. Chorou baixinho. Chorinho. Alguém estaria pensando nela naquele momento? Alguém estaria sofrendo como ela?! Sei não. Pegou dois papéis, duas canetas e um cigarro. Sentou a beira da cama e sussurrou algumas palavras. Encontrou um verso. Escreveu e sonhou. Acendeu o cigarro e tragou-o como se fosse o seu último suspiro. Tirou forças de seu ventre para aquele trago. Esvaziou seus pulmões e sentiu-se aliviada. Jogou-se em seus lençóis. Relaxou cada músculo do seu corpo e resolveu desaparecer. Levantou. Calçou seu salto mais alto e vestiu-se de vermelho. Cobriu suas mãos com luvas de veludo. Jogou fora seus versos mais sinceros, trancou a porta dos fundos e desapareceu. Desapareceu dela mesma. Dela. E de mais algumas.





Sincera.










Karin Segalla Ferreira

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