segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Falta

Escrevia. Apagava. Rasgava todas as cartas. Não sabia mais como se expressar. Tentou ligar, tentou sorrir. Tentou dizer. E por muitas vezes tentou chorar. Suas lágrimas não saíam. Sua voz ao telefone era muda. Estava cansada. Queria todas as vitórias que buscara durante uma vida inteira, e que deixou escapar por tantos erros. Cansou de tentar. Cansou de tudo e de todos. Até das próprias palavras. Da própria saliva. Do gosto doce que sentia ao pensar nela. Lembrou que toda vez que saía de casa, deparava-se com um rosto igual ao dela. Em todo canto, dentro dela e em outros cantos. Ouvia tudo aquilo. Mas sabia que ela não era sua mulher. Tinha certeza que tudo o que vivera com ela, foi apenas uma escolha. Um caminho errado. Uma ferida, uma cicatriz que ficará pra sempre em seu corpo. Deixou as mãos caírem. Abaixou o corpo e se ajoelhou. Pediu perdão. Pensou na morte - quem sabe na sorte - e até em tê-la. Mais uma vez queria desaparecer. Dessa vez, por inteiro. Queria viver um dia de cada vez, mas era tomada por sentimentos de um futuro incerto que a perturbavam. Seria ela capaz de enfrentar o que lhe seria imposto? Teria ela a força de aguentar cada dor? - Sei não. - Não, eu sei. - Não. Apaguem as luzes. Ela está de branco e quer passar.

- Imagem clara no escuro. A energia mais pura e gelada. A luz.



(tô ali, naquela nuvenzinha ali)




Karin Segalla Ferreira

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Manhãs sem sono, noites de insônia

- Ela não conseguia dormir há três dias. Pensava nos seus dias com ela. Nos sorrisos e promessas. Naquelas brigas sem sentido. Cansou de esperar e resolveu ligar. Primeiro, apagou as luzes, despiu-se e colocou seu mais doce perfume. Vestiu-se de solidão. Respirou fundo mais uma vez, e com as duas mãos frias discou o número que até em tão, por ela, não era esquecido há seis anos. Suou frio. Seu coração num descompasso bateu desesperado. Suas mãos frias, mais uma vez, pulsavam de nervoso. Ela não sabia o que dizer. Não sabia pra que serviam as suas dúvidas, e todo aquele sentimento. Desligou antes que escutasse a voz que não a deixava em paz. Mesmo assim a ouvia. Dizendo-lhe tudo aquilo que escutara outrora. Tentou se desligar. Antes que escutasse a sua própria voz dizendo tudo o que dissera outrora, e tudo aquilo que gostaria de dizer. Tudo o que sofreu, tudo o que chorou e viveu. Tudo aquilo que nunca disse. Nem pra ela mesma. Nem pra Deus. Chorou baixinho. Chorinho. Alguém estaria pensando nela naquele momento? Alguém estaria sofrendo como ela?! Sei não. Pegou dois papéis, duas canetas e um cigarro. Sentou a beira da cama e sussurrou algumas palavras. Encontrou um verso. Escreveu e sonhou. Acendeu o cigarro e tragou-o como se fosse o seu último suspiro. Tirou forças de seu ventre para aquele trago. Esvaziou seus pulmões e sentiu-se aliviada. Jogou-se em seus lençóis. Relaxou cada músculo do seu corpo e resolveu desaparecer. Levantou. Calçou seu salto mais alto e vestiu-se de vermelho. Cobriu suas mãos com luvas de veludo. Jogou fora seus versos mais sinceros, trancou a porta dos fundos e desapareceu. Desapareceu dela mesma. Dela. E de mais algumas.





Sincera.










Karin Segalla Ferreira