terça-feira, 7 de abril de 2009

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Eu poderia ficar horas escrevendo sobre ela. Poderia ficar horas escrevendo sobre qualquer coisa. Desde que conhecesse o assunto. Mas não sobre mim. Sobre mim eu sei quase nada. Sei que gosto de Cazuza e me apaixono fácil. Sempre sou burra e quebro a cara (em qualquer assunto). É uma ótima definição! Ah! Tem outra: Menina mimada tentando a sorte num caça-níquel em Vegas, ora essa! Não. Não quero nunca me definir. Ou, talvez um dia precise. Quem sabe quando eu voltar a fazer terapia. Mas voltando ao fio da meada. Ela. É sobre ela que eu falo, é nela que eu penso o tempo todo, e é sobre ela que eu vou escrever aqui. São 02h45min, e eu tive um dia longo. Ela também deve ter tido, com seu trabalho de designer e seu curso de Psicologia na Federal. Eu não fiz nada. Só fui a Biblioteca ler alguma coisa e jogar conversa fora com a minha ex-chefe. Tomar café no Lucca, como de prache fazíamos e me lamentar sobre a paixão perdida por entre os dedos.
A minha sorte é que ela ainda fala comigo, ainda me liga. Se fosse o contrário, em alguma noite de insônia, sem rivotril, eu já teria dado cabo dessa minha vida. Na verdade acho que só não o fiz ainda por medo do umbral. E medo de que a outra vida pode ser muito pior que essa. Minha vida não é ruim. Ela ficou ruim. Não era. Ficou quando eu resolvi inconscientemente repulsar as pessoas que me amam. E são as que mais importam.
Eu, estudante de Letras na PUC. Não, eu não gosto do curso. Só faço pra escrever melhor e saber mais sobre literatura. Parece ser um curso inteligente, de pessoas inteligentes. Por isso o curso.
Mas, voltando a falar dela. Eu a amo. Eu a amo o infinito. Não sei quantas vezes, ou quantos dias vou ter que acordar e saber que ela não está mais ao meu lado. Quantas vezes vou ter que não dormir, e quando for dormir não poder ligar para ela para desejar boa noite. “Boa noite amor, durma com os anjos”. Ela não acredita em anjos. Mas eu sei que os bons e iluminados estavam ao lado dela, fazendo com que ela tivesse uma boa noite de sono, toda vez que eu desejasse.
Encontrei ela na rua de casa. Eu estava com uma flor, uma rosa em punho. Cor de champagne. Comprei na praça com todo carinho e afeição que se pode comprar algo para alguém. Ela estava linda. Mais uma vez: linda. Estonteante. Desde que terminamos ela vive assim. Lógico, deve ter sido um alívio para ela se livrar de mim. Eu fui uma pessoa que nem eu sabia que podia ser. E na verdade, já a estava sendo há um bom tempo. Só não havia percebido ainda.

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