terça-feira, 8 de abril de 2014

Cenas musicais. Aquele mesmo verso, o mesmo mar, o mesmo amor. Silvia não sabia conter o seu sorriso, sincero. Ela era sincera inteira. Quando queria enganar, até que conseguia. Poucos os que a conheciam. Mas ela era sincera até quando mentia. Já que quando mentia era tão óbvio e genuíno, que ela mal sabia o que era a sua verdade inventada ou a mentira esquecida. Bom, Silvia não sabia mais nada. Chegou um dia em que tudo o que mais queria era voltar no tempo. Não. Ela não queria voltar no tempo... ela queria era que o tempo passasse de uma vez, pra que pudesse de uma vez por todas esquecer o rosto de Helena. Do rosto, da voz, do sexo, da pele. Tudo. Todo aquele vazio que essa memória a trazia. Toda a dor que ela por mais um dia optava por não sentir, e sentia, mesmo sem querer, a ausência de Helena. Mesmo sem querer, ela sentia. E como apagar todo esse borrão extenso? Como quando se tenta apagar um escrito de tinta de caneta fresca no caderno com borracha e se borra tudo. Quanto mais se tenta apagar, mais se borra. Era isso que Helena representava. Um grande borrão indecifrável. Daqueles que não dá pra esquecer. Já que é indecifrável. E se parece com quase tudo o que se vê, já que Silvia é míope. Parece que não vai passar.



(Continua...)


Karin Segalla Ferreira.

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