- Procurei teu canto nos meus vestidos, e no meu armário... mais um riso contido. Procurei-te e depois de te achar me perdi. Sem abrigo. Mas nem tudo dura pra sempre. E o pra sempre mesmo eu nunca vi. Procurei-te nos meus versos, bálsamo, procurei teu cheiro, teu sorriso, tua pele. Só encontrei a saudade. Encontrei a saudade, a memória. Aquele abrigo já não é mais meu, nem do teu sorriso, nem da vista da tua janela. Eu cantei tudo, e joguei tudo fora. Mas ainda procuro, ainda quero, ainda me culpo. Me despi de todas as canções. E você continua ali. Eu te procuro todo dia, e te acho nos meus vestidos, escondida em meu sorriso. Não me olho mais nos olhos. Não me olho mais nos olhos... porque eu não vejo mais os teus. As minhas duas mãos frias percorrem o meu peito angustiado. Tu não estás aqui, mas eu te acho. Na minha memória um breve traço, mediano, leve, me sufoca. Essa memória me sufoca. Nos meus ouvidos, ah os meus ouvidos... os teus lábios mortos de cansaço me diziam tantas coisas. Os meus ouvidos... agora já não dizem mais nada. Só esse silêncio, essa memória, essa saudade. Eu não sei onde estou. Mas já posso ir.
- Vicentina. Espere até amanhã. Seja digna do seu amor, da sua espera por si mesma. Não peque. Não fuja. Não vá pra longe. Fique aqui, com você. Minha boca não quer lhe dizer mais nada porque não há mais nada a ser dito. Todas as palavras são de amor. Não canto mais em seus ouvidos, porque todas as canções são de amor. E não... eu não quero escrever sobre amor pra você. Assuma, suma, voe pra onde quiser. Eu não me importo. Eu não me importo com você. Todas as pessoas me parecem melhores que você. Nunca mais vi ninguém como você. Você não sabe onde está, isso me incomoda. Você me prometeu e não fez. Aliás, você não fez nada V. Nem me amar você foi capaz. Agora vá, me deixa em paz com o que me restou, essas pessoas melhores, e tão diferentes de você. Essa sensação... essa merda que você me colocou Vicentina. Você levou minha paz. Eu não quero mais. Lave os seus vestidos. Regue o seu sorriso com outros lábios, ouça outras promessas, outros amores, outros vícios. Outras...
Karin Segalla Ferreira
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