-Lúcia! Repara nessas palavras! A lucidez já não ocupa lugar algum nessa loucura. Nesse universo descabido de sentido os teus pensamentos já não fazem mais parte da tua voz, e os teus olhos aos meus já não dizem coisa nenhuma - é estranho não te encontrar nos teus próprios olhos. Entendas que deixo essa carta sobre a mesa de centro da sala, porque não encontrei mais nenhum espaço no teu quarto pra mim e pras minhas palavras inertes. Escrevo porque espero que tenhas a lembrança fixa do nosso primeiro beijo, e ainda que essa lembrança do que fui seja inquieta, fale com as flores do jardim sobre ela. Sobre aquele beijo. Eu tenho certeza que os passarinhos e o orvalho que despe as pétalas adorarão ouví-la, assim como as rosas. Ah! Por favor, colha as pétalas das rosas e coloque-as num lugar seguro, e então, serei eterna contigo como as pétalas são com o perfume das rosas - até quando durar o tempo... Os ventos do outono me alimentarão com suas mãos ainda que por um breve instante a tua lembrança comigo seja morta. Se por acaso o inverno te impedir de me sentir, deixe-me ir, pois sinto falta de nada sentir. Seremos juntas sobreviventes de todo esse desastre mental "à beira da lucidez".
-Vicentina... dança comigo? É carnaval, e está fazendo um ano... e bem, você sabe.
Silêncio respeitoso. Obrigada. (Não aqui dentro)
Karin Segalla Ferreira
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